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*Por Cesar Faccio
Cada brasileiro gera, em média, um quilo de resíduos por dia. Desse volume, há a percepção de que pouco mais de 30% tenha, hoje, potencial de reaproveitamento. Será, então, que podemos perseguir – dentro do nosso atual cenário – uma meta de lixo zero? Não seria mais efetivo encararmos a nossa realidade para otimizar a adesão à economia circular, fortalecendo a logística reversa e otimizando ao máximo a cadeia da reciclagem?
Esse movimento do lixo zero é global, mas não há como fugir das particularidades e do nível de maturidade quanto à gestão de resíduos de cada país.
Segundo o último Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, publicado pela Abrelpe com dados de 2022, temos no nosso país uma cobertura de coleta de 93%, sendo que algumas regiões estão menos evoluídas do que outras nesse aspecto.
Quando filtramos apenas a coleta seletiva, há, ainda, 25% dos municípios brasileiros sem nenhuma iniciativa de separação dos recicláveis, o que afasta ainda mais a cidade de uma possibilidade já remota de lixo zero. Isso sem falar nas falhas na disposição final: o Brasil ainda tem 39,5% de seus resíduos destinados a lixões a céu aberto e aterros controlados. Isso significa que quase 30 milhões de toneladas seguem com uma disposição final totalmente inadequada.
Sabemos que quando se pensa em lixo zero, não estamos falando necessariamente de uma vida sem nenhuma geração de resíduos, mas sim da redução ao máximo dos resíduos gerados, garantindo todo o reaproveitamento possível dos materiais recicláveis, investindo no consumo consciente e trabalhando o conceito dos 3 Rs.
Mas então, não seria mais proveitoso sermos mais realistas e, em vez de estimular um conceito inalcançável, promovermos a educação ambiental com mais transparência, clareza e objetivos bem definidos?
O que queremos dizer com isso é que estamos um passo atrás. Precisamos, antes de mais nada, fortalecer a coleta seletiva em todas as regiões brasileiras e encerrar, de uma vez por todas, lixões e aterros controlados – responsabilidades do poder público – enquanto a indústria investe em pesquisa e inovação para tornar produtos e embalagens mais facilmente recicláveis e fortalece seus sistemas de logística reversa, trabalhamos a conscientização populacional, ensinando sobre como separar e descartar corretamente e por que fazer isso.
Em paralelo, temos de investir fortemente na cadeia da reciclagem, o que envolve a aposta em projetos estruturantes capazes de ampliar a capacidade produtiva de associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis, um dos grandes objetivos da Coalizão Embalagens.
Agir com ansiedade, buscando a meta do lixo zero, é como querer construir o prédio antes de garantir a fundação. Precisamos da base bem feita para que o processo seja sustentável e que não desmorone por falta de uma cultura forte e bem estabelecida.
*Cesar Faccio é secretário-executivo da Coalizão Embalagens